A prisão dourada dos clichés

A Gaiola Dourada, filme de Ruben Alves sobre a comunidade portuguesa em França, tem sido um sucesso desbragado. Parece ter ultrapassado os 150 mil espectadores em Portugal e continuará a muito subir, sem dúvida. No sábado fui ver o filme.

Pensava eu que iria ser uma comédia implacável, consciente dos seus lugares-comuns e capaz de atropelar tudo e todos em nome de uma gargalhada. Enganei-me. Não é uma comédia desregrada e sem limites, que puxa os clichés para a frente e os desfaz através do riso. Não. A Gaiola Dourada assume os lugares-comuns acerca dos emigrantes portugueses em França, sim, isso faz de forma aberta. Porém, fica-se por aí. Não dá o passo em frente e acaba por ser engolida pelos clichés que pretende expor. Os portugueses (essa massa disforme, mas homogénea) não são capazes de ficar contentes quando algo de bom lhes acontece, ficando a remoer nas desgraças possíveis e impossíveis. Ai sim? Pois então vamos dizer isso no filme e vamos mostrar que não conseguimos mostrar o contrário. Vamos falar muito de bacalhau, de vergonha, de culpa, de palavrões (que só um personagem diz com regularidade).

Acredito que o filme seria possível – e tão bem sucedido ou mais – mesmo que procurasse dar a volta aos lugares-comuns. No fim de contas, acaba por ser uma mini-telenovela, uma história de saudade (com a inevitável cena de fado, por-amor-de-deus) e de amor. É banal. Talvez nunca tenha querido ser mais, o que é perfeitamente legítimo, mas parece-me que já era altura de se trabalhar melhor os portugueses emigrantes, em particular os que partiram para França. Esperava muito mais. Nota positiva para as interpretações, quase todas excelentes. Rita Blanco será a nossa atriz mais interessante e Joaquim de Almeida precisa de mais espaço para lá dos vilões que costuma fazer. Bem-vinda de volta, Maria Vieira.

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